segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Questionamentos de um pensador...

Eu, eu mesmo
Eu, eu mesmo...
Eu, cheio de todos os cansaços
Quantos o mundo pode dar. —
Eu...
Afinal tudo, porque tudo é eu,
E até as estrelas, ao que parece,
Me saíram da algibeira para deslumbrar crianças...
Que crianças não sei...
Eu...
Imperfeito? Incógnito? Divino?
Não sei...
Eu...
Tive um passado? Sem dúvida...
Tenho um presente? Sem dúvida...
Terei um futuro? Sem dúvida...
Ainda que pare de aqui a pouco...
Mas eu, eu...
Eu sou eu,
Eu fico eu,
Eu...

(Álvaro de Campos -- Mais um de seus Heterónimos,
Campos foi o único a manifestar fases poéticas
diferentes ao longo da sua obra.)

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Rima sobre rima...

Sim
Sim, sei bem
Que nunca serei alguém.
Sei de sobra
Que nunca terei uma obra.
Sei, enfim,
Que nunca saberei de mim.
Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
Este luar, estes ramos,
Esta paz em que estamos,
Deixem-me crer
O que nunca poderei ser.

Ricardo Reis

domingo, 23 de agosto de 2009

Tantas perguntas em tão poucas palavras



    Pouco me importa.
    Pouco me importa o quê? Não sei: pouco me importa.

    Alberto Caeiro, 24-10-1917
    (Um dos heterônimos de Fernando Pessoa)

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Um convite à reflexão.


(Dê play e escute o João Villaret interpretando o poema de Fernando Pessoa)

AUTOPSICOGRAFIA

"O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.


E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas da roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração."

Fernando Pessoa

Essa é uma das mais conhecidas poesias de Fernando Pessoa, com uma metalinguagem na qual ele descreve o sentimento e o que os poetas pensam de suas próprias obras.Uma visão breve sobre a vida e a obra de um dos maiores poetas da língua portuguesa.
(Daniel Tavares)